Você sabia que a forma como vivemos impacta diretamente a nossa saúde, influenciando até mesmo os nossos genes? É o que afirma o geneticista molecular Mariano Zalis, chefe do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, apenas 1% das doenças são hereditárias, ou seja, determinadas exclusivamente pela genética. O restante? É moldado pelo nosso estilo de vida.
Epigenética: desvendando o poder do meio ambiente
A chave para entender essa relação entre estilo de vida e saúde está na epigenética, a ciência que estuda como os genes são ativados ou desativados sem que a sequência do DNA seja modificada. Em outras palavras, a epigenética investiga como o meio ambiente interage com os nossos genes.
Zalis explica que os genes não agem sozinhos. Eles são influenciados pelo ambiente, que inclui tudo o que nos rodeia: hábitos, experiências, alimentação, estresse e até mesmo eventos que ocorreram na vida dos nossos pais e avós.
Imagine o DNA como um manual de instruções para o nosso corpo. A epigenética atua como um marca-texto, destacando quais instruções serão lidas e seguidas em determinado momento. É como se o estilo de vida pudesse “ligar” ou “desligar” certos genes, influenciando a nossa saúde.
O cérebro: o maestro da orquestra genética
Mas como o ambiente se comunica com os nossos genes? É aí que o cérebro entra em cena. Ele atua como um maestro, interpretando as informações do ambiente e enviando sinais para as células, regulando a expressão dos genes.
Por exemplo, se estamos constantemente estressados, o cérebro envia sinais que ativam genes relacionados ao estresse, aumentando o risco de desenvolvermos doenças cardíacas, diabetes e depressão. Por outro lado, se praticamos exercícios físicos regularmente, o cérebro envia sinais que ativam genes que protegem o coração e melhoram o humor.
Da gestação à vida adulta: a influência do estilo de vida em cada fase
A influência do estilo de vida sobre os genes começa cedo, ainda na gestação. A carga genética que herdamos dos nossos pais já pode estar marcada pelas experiências que eles viveram. No entanto, o corpo possui um mecanismo de “reset” durante a fecundação, a chamada limpeza epigenética, que apaga algumas dessas marcas.
Isso não significa que todas as marcas sejam apagadas. Eventos traumáticos, como guerras, fome e pandemias, podem deixar marcas profundas no DNA, que podem ser transmitidas para as gerações seguintes. Estudos com descendentes de sobreviventes do Holocausto, por exemplo, mostram uma maior predisposição a distúrbios metabólicos e psicológicos, como a claustrofobia.
Ao longo da vida, o estilo de vida continua a moldar a expressão dos nossos genes. A alimentação, o nível de atividade física, o sono, o estresse e até mesmo as relações sociais podem influenciar a nossa saúde, ativando ou desativando genes que nos protegem ou nos predispõem a doenças.
Metilação: o código secreto da epigenética
Um dos mecanismos mais importantes da epigenética é a metilação, um processo químico que controla a expressão dos genes. Imagine a metilação como um interruptor que “liga” ou “desliga” os genes. A forma como vivemos pode influenciar a metilação, alterando a expressão dos nossos genes e, consequentemente, a nossa saúde.
Reinventando a saúde: o poder do estilo de vida
A boa notícia é que, ao entendermos o poder da epigenética, podemos assumir o controle da nossa saúde e “reinventar” o nosso destino. Ao adotarmos um estilo de vida saudável, com uma alimentação balanceada, exercícios físicos regulares, sono de qualidade e gerenciamento do estresse, podemos influenciar positivamente a expressão dos nossos genes e viver com mais saúde e bem-estar.
Lembre-se: a genética não é uma sentença definitiva. O estilo de vida é um fator determinante para a saúde, com o poder de influenciar até mesmo os nossos genes. Faça escolhas conscientes e viva com mais saúde e vitalidade!
Fonte: Jornal O Sul