Um novo estudo populacional de grande escala revelou uma ligação preocupante: a resistência à insulina pode ser um fator de risco significativo para o desenvolvimento da estenose aórtica (EA), a doença valvular cardíaca mais comum no mundo. Essa descoberta abre caminho para novas estratégias de prevenção e tratamento da EA, que afeta 2% da população mundial com mais de 65 anos.
O que é estenose aórtica e quais são seus perigos?
A estenose aórtica é uma condição cardíaca debilitante que se caracteriza pelo estreitamento da válvula aórtica, restringindo o fluxo sanguíneo do coração para o resto do corpo. Com o tempo, a válvula engrossa e endurece, forçando o coração a trabalhar mais para bombear o sangue. Se não tratada, a estenose aórtica pode causar danos progressivos ao coração, levando a complicações graves e potencialmente fatais, como insuficiência cardíaca.
Os sintomas da EA podem levar anos para se manifestar e incluem dor no peito, cansaço, falta de ar e palpitações cardíacas. Algumas pessoas podem nunca apresentar sintomas, mas ainda correm risco de insuficiência cardíaca e morte. Fatores de risco já conhecidos para a EA incluem idade avançada, sexo masculino, hipertensão arterial, tabagismo e diabetes.
A ligação entre a resistência à insulina e a estenose aórtica
A resistência à insulina, que muitas vezes se desenvolve anos antes do aparecimento do diabetes tipo 2, ocorre quando as células do corpo não respondem à insulina de forma eficaz. A insulina é o hormônio responsável por regular os níveis de glicose no sangue. Em resposta à resistência, o corpo produz mais insulina para tentar manter os níveis de glicose normais, levando a níveis elevados de insulina no sangue (hiperinsulinemia).
O estudo, publicado na revista científica Annals of Medicine, analisou dados de 10.144 homens finlandeses com idades entre 45 e 73 anos, todos inicialmente sem EA, que participaram do Estudo da Síndrome Metabólica em Homens (METSIM). No início do estudo, os pesquisadores mediram vários biomarcadores, incluindo aqueles relacionados à hiperinsulinemia e/ou resistência à insulina. Após um período médio de acompanhamento de 10,8 anos, 116 homens (1,1%) foram diagnosticados com EA.
A equipe de pesquisa identificou vários biomarcadores relacionados à resistência à insulina que estavam associados a um risco aumentado de EA. Esses biomarcadores permaneceram preditores significativos da doença, mesmo após o ajuste para outros fatores de risco conhecidos, como índice de massa corporal (IMC) e hipertensão arterial, ou excluindo participantes com diabetes ou malformação da válvula aórtica.
Utilizando técnicas estatísticas avançadas, os pesquisadores isolaram perfis-chave de biomarcadores, identificando dois padrões distintos que indicam a resistência à insulina como um preditor da EA, independentemente de outros fatores de risco cardiovascular, como idade, pressão arterial, diabetes e obesidade.
Implicações para a saúde pública e novas perspectivas de tratamento
A descoberta de que a resistência à insulina pode ser um fator de risco modificável para a EA é uma notícia promissora, especialmente considerando a alta prevalência da resistência à insulina nas populações ocidentais.
“Como a resistência à insulina é comum em populações ocidentais, o gerenciamento da saúde metabólica pode ser uma nova abordagem para reduzir o risco de EA e melhorar a saúde cardiovascular em populações que envelhecem”, afirma a Dra. Johanna Kuusisto, autora principal do estudo, do Hospital Universitário de Kuopio, na Finlândia. “Futuros estudos agora são necessários para determinar se a melhoria da sensibilidade à insulina por meio de medidas como controle de peso e exercícios pode ajudar a prevenir a condição.”
Estudos futuros e limitações
Embora o estudo finlandês tenha sido abrangente, com uma grande coorte populacional e um longo período de acompanhamento, ele apresenta algumas limitações. O foco exclusivo em participantes do sexo masculino e o número relativamente pequeno de casos de EA podem limitar a generalização das descobertas para outras populações. No entanto, o estudo abre caminho para futuras pesquisas que investiguem o papel da resistência à insulina no desenvolvimento da EA em mulheres e em diferentes grupos étnicos.
O estudo também destaca a necessidade de pesquisas adicionais para determinar se intervenções que melhoram a sensibilidade à insulina, como perda de peso, exercícios físicos regulares e uma dieta saudável, podem efetivamente prevenir ou retardar a progressão da estenose aórtica.
Fontes: Science Daily