O Brasil enfrenta um desafio peculiar na área da saúde: combater, simultaneamente, altas taxas de doenças transmissíveis, características de países de baixa renda, e o avanço das doenças crônicas, comuns em nações mais ricas. Esse cenário, impulsionado pela desigualdade social e por mudanças no estilo de vida, exige abordagens abrangentes e investimentos estratégicos para garantir a saúde da população.
Doenças cardíacas lideram mortes no Brasil e no mundo
As doenças cardiovasculares voltaram a ocupar o topo do ranking das principais causas de morte no Brasil em 2022, ceifando a vida de cerca de 400 mil brasileiros. Esse número alarmante, quase equivalente ao pico da pandemia de Covid-19 em 2021, evidencia a gravidade dessas enfermidades. Globalmente, as doenças cardiovasculares também representam a principal causa de morte.
Um relatório publicado no Journal of the American College of Cardiology revelou que infarto e AVC foram responsáveis por 76% das mortes por doenças cardiovasculares na América Latina Tropical em 2022. No Brasil, apesar da queda na taxa de mortalidade por AVC nas últimas décadas, o infarto permanece como a principal causa de morte em todos os estados, impulsionado por fatores de risco como diabetes e colesterol alto.
Doenças transmissíveis persistem em cenário desigual
Embora as doenças crônicas representem um desafio crescente, o Brasil ainda convive com altas taxas de doenças transmissíveis, como dengue e malária. Essa realidade é atribuída à desigualdade social, que limita o acesso à saúde, saneamento básico e condições de vida adequadas em diversas regiões do país.
O Sistema Único de Saúde (SUS), criado em um contexto de prevalência de doenças transmissíveis, teve papel crucial na redução da mortalidade infantil e materna, além de ampliar a cobertura vacinal. No entanto, o sistema se vê pressionado a lidar com o aumento das doenças crônicas, exigindo adaptações e investimentos para atender às necessidades da população.
Atenção básica: estratégia essencial para a saúde pública
Diante desse cenário complexo, especialistas defendem a Atenção Básica como pilar fundamental para o enfrentamento dos desafios da saúde no Brasil. O investimento na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças crônicas e agudas na Atenção Primária pode reduzir a sobrecarga dos serviços especializados e hospitais, garantindo um atendimento mais eficiente e acessível.
Hábitos saudáveis e prevenção: caminhos para uma vida mais longa
Além dos investimentos em saúde pública, a conscientização da população sobre a importância de hábitos saudáveis é crucial para reduzir o impacto das doenças crônicas.
- Alimentação balanceada: embora não exista uma dieta ideal, “o consumo de alimentos de menor qualidade” contribui para o aumento das doenças cardiovasculares. Logo, podemos inferir que uma alimentação balanceada, rica em frutas, verduras, legumes e proteínas magras, e com baixo consumo de alimentos processados, açucarados e gordurosos, é crucial para a saúde cardiovascular e prevenção de doenças crônicas.
- Prática regular de exercícios físicos: a recomendação geral é de, pelo menos, 150 minutos de atividades físicas moderadas por semana, como caminhadas, natação ou ciclismo para proteger o corpo contra as doenças cardiovasculares
- Cessação do tabagismo: o tabagismo é apontado como um dos principais fatores de risco para doenças cardiovasculares. Abandonar o cigarro traz benefícios imediatos para a saúde, independentemente da idade ou tempo de tabagismo.
- Consumo moderado de álcool: o consumo excessivo da substância também está associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. É fundamental ter uma relação saudável com o álcool, respeitando os limites de consumo recomendados para homens e mulheres.
- Controle do estresse: buscar formas de gerenciar o estresse, como a prática de meditação, yoga ou outras atividades relaxantes, é essencial para a saúde física e mental.
A prevenção, aliada a um estilo de vida saudável desde a infância, é fundamental para garantir uma população mais saudável e reduzir a carga sobre o sistema de saúde.
Desafios para o futuro: longevidade e qualidade de vida
As fontes indicam que a expectativa de vida, apesar de ter aumentado significativamente no último século, pode estar se aproximando de um limite biológico. Essa constatação coloca em xeque o foco exclusivo na longevidade, destacando a importância de se buscar um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.
Nesse contexto, a gerosciência, campo da ciência que investiga os processos biológicos do envelhecimento, surge como uma área promissora. Investir em pesquisas que visem retardar o envelhecimento e prevenir doenças relacionadas à idade pode ser a chave para garantir uma vida mais longa e saudável para a população.
O Brasil, com sua população em processo de envelhecimento e a dupla carga de doenças, precisa estar preparado para os desafios e oportunidades que esse novo cenário demográfico apresenta. Investir em saúde pública, atenção básica, prevenção e pesquisa científica são medidas essenciais para garantir uma sociedade mais saudável e preparada para o futuro.