A primeira cirurgia no metaverso do mundo foi feita por uma neurocirurgiã brasileira

Por meio de um avatar hiper-realista, Giselle Coelho foi responsável por conduzir a simulação de uma neurocirurgia de biópsia de tumor cerebral por endoscopia, misturando mundo real e virtual

Cirurgia robótica. Nanotecnologia. Telemedicina. São muitas as inovações tecnológicas na área médica que chegaram para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e facilitar a rotina dos profissionais. E não é de hoje que saúde e tecnologia andam de mãos dadas. Lá em 1895, o físico alemão Wilhelm Conrad Roentgen, conhecido como o pai da radiografia, já divulgava experimentos para ter imagens internas do corpo humano. O primeiro uso do raio X impulsionou uma revolução tecnológica sem precedentes na área da medicina.

Mas imagine falar aos especialistas daquela época que um dia seria possível que um médico realizasse um procedimento cirúrgico sem estar presente fisicamente com o paciente? Parece filme, mas é uma das possibilidades do metaverso na saúde. Estima-se que 30% da população mundial terá uma experiência no metaverso até 2026, de acordo com o estudo Metaverse Hype – Instituto Gartner. E ele poderá abrir diversas portas para a área da saúde neste novo mundo.

Uma dessas portas escancaradas é o caso da Dra. Giselle Coelho, responsável pela primeira simulação de cirurgia no metaverso do mundo. Neurocirurgiã pediátrica do Sabará Hospital Infantil e líder do projeto, a especialista  conduziu uma neurocirurgia de biópsia de um tumor cerebral por endoscopia com a mentoria do avatar criado para essa simulação. Uma equipe de médicos teve o auxílio da doutora Geex, uma réplica hiper-realista da Dra. Giselle, em holograma, que possui as informações dos movimentos finos da neurocirugiã para realizar a técnica cirúrgica com precisão.

(Foto: Sabará Hospital Infantil/Reprodução)

“O metaverso vai bem além do que as pessoas experimentam em um video game. Captaram os meus movimentos enquanto eu estava fazendo uma neuroendoscopia e eles foram colocados em um avatar que é minha cópia fiel. Esse avatar, com ajuda de um bebê simulador, mostra os procedimentos passo a passo: montagem do endoscópio, preparo do bebê, incisão na cabeça”, explica a neurocirurgiã.

Durante a operação, Giselle usou óculos do metaverso, que faziam com que ela tivesse acesso ao mundo real e virtual ao mesmo tempo. Os óculos permitem à cirurgiã enxergar o paciente, os colegas no centro cirúrgico e o avatar. Ela ainda conseguia ouvir as instruções da doutora Geex, mesmo sem usar fones de ouvido. “Na simulação eu era aluna física da doutora Geex, meu avatar. Operar seguindo as minhas próprias instruções foi muito interessante, porque é muito real. Você tem a impressão de que tem outra pessoa ali. Ela mexe, interage, olha no olho, tem a mesma expressão facial”, lembra Giselle.

A primeira cirurgia no metaverso

A equipe de médicos fez a simulação de uma neurocirurgia de biópsia de um tumor cerebral por endoscopia. O bebê operado era, na verdade, um boneco hiper-realista — que também foi desenvolvido pela Dra. Giselle Coelho no passado. A simulação inédita foi realizada no Centro Cirúrgico do Sabará com o boneco impresso em 3D, baseado nos exames reais de um paciente e com suas mesmas características físicas. Todo o procedimento foi feito a partir da tecnologia HoloLens, um dispositivo de realidade virtual que trabalha com hologramas inteiramente voltados para interação no ambiente real através do uso de gestos e vozes.

(Foto: Sabará Hospital Infantil/Reprodução)

Os especialistas acreditam que, no futuro, avatares como a doutora Geex poderão orientar estudantes do mundo todo e ainda permitir que o professor ensine várias pessoas ao mesmo tempo em diferentes locais.  “Eu posso mandar esse bebê realístico que já está desenvolvido para a África, para a Ásia ou para qualquer lugar do mundo junto com os óculos. O aluno coloca os óculos e vê um professor de referência ensinando num formato 4D, ou seja, não é só uma representação virtual; o avatar interage e fala. Estamos montando um banco de inteligência artificial em que ele vai ser capaz de identificar erros e de responder a perguntas”, explica a Dra. Giselle.

E as possibilidades do metaverso na saúde são inúmeras: a neurocirurgiã também fala sobre o uso do avatar para holoportações. “Estou aqui em São Paulo no Sabará Hospital Infantil e o meu avatar vai ao Boston Children’s Hospital. Pelos óculos eu enxergo a sala do centro cirúrgico, o paciente, a equipe, e eles vão me ver como avatar. O que eu fizer aqui, minha réplica faz lá. Isso vai ter uma aplicação incrível nos próximos anos porque eu posso ter professores de referência nas cirurgias mais complicadas se eles puderem holoportar. São infinitas as possibilidades; o metahealth já é uma realidade”, finaliza Giselle.

Fontes: Sabará Hospital Infantil; Instituto Pensi; Organização Mundial da Saúde (OMS).

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