Os perigos da baixa cobertura vacinal contra meningite: o que está por trás dos números

A vacinação é a melhor forma de proteger crianças e adultos contra a meningite meningocócica tipo C, que pode ser letal em poucas horas

O registro de três surtos de meningite meningocócica tipo C neste ano na cidade de São Paulo e mortes pela doença em outras regiões do país acendem um grave alerta. A queda da cobertura vacinal contra a doença nos últimos anos foi drástica: de acordo o Ministério da Saúde, a aplicação da vacina meningocócica C (conjugada) em menores de um ano de idade caiu, em apenas cinco anos, de 87,4% para 47% no Brasil.

Os dados são preocupantes já que a meningite meningocócica tipo C pode ser letal para a criança. Trata-se de uma doença de evolução rápida: quando os sintomas aparecem, o quadro já está grave e pode levar a óbito em poucas horas. Ela também pode trazer consequências como convulsões, perda auditiva e retardo cognitivo. O tempo entre a exposição e a manifestação dos primeiros sintomas da infecção pela bactéria normalmente é de 2 a 10 dias, mais comum entre 3 e 4 dias.

Aproximadamente 10% das pessoas, principalmente adolescentes e jovens, podem portar a bactéria na garganta ou nariz sem desenvolver a doença. Algumas pessoas que aparentam não estar doentes, ao tossir, espirrar ou beijar  podem transmiti-la. Basta que uma pessoa desenvolva a doença para que exista a possibilidade da ocorrência de um surto. Por isso, a prevenção é fundamental para salvar vidas.

A vacinação é uma das melhores formas de proteção não só contra meningite, mas também outros problemas de saúde. Além de causar morte entre 24 e 48 horas após a manifestação da doença, a meningite bacteriana pode causar deficiências sérias e permanentes, como problemas neurológicos, surdez, déficit visual, motor e cognitivo, e até necrose de extremidades, que pode levar a amputação de membros.

A vacinação é uma das melhores formas de proteção contra a meningite, doença que pode ser letal em poucas horas (Foto: Freepik)

As crianças pequenas correm maior risco de ser infectadas e são o grande alvo das campanhas de vacinação. Mas isso não significa que adultos estão livres — até 23% dos adolescentes e adultos são portadores da bactéria, podendo transmiti-la para outras pessoas através da saliva e partículas respiratórias, sem necessariamente desenvolver a doença.

Por trás dos números

A baixa cobertura vacinal de doenças como a meningite levanta um debate sobre o motivo dos pais não estarem protegendo os filhos por meio da vacina. Há alguns fatores que ajudam a entender esse comportamento. O primeiro deles é o fato das vacinas serem vítimas do próprio sucesso: conforme as doenças são eliminadas, a população se esquece das ferramentas de prevenção e ganha uma falsa sensação de segurança. Além disso, muitas famílias enxergam a vacina como cura e não prevenção, e só vão atrás da imunização dos filhos em casos mais graves.

Outro motivo, que por muitas vezes acaba sendo esquecido, é a dificuldade de acesso aos postos de saúde. Isso porque mais de 50% das mulheres brasileiras, que são as maiores responsáveis pelo cuidado com a saúde dos filhos, trabalham fora atualmente e não têm tempo de levar a criança para a vacinar. Em algumas regiões do país, os postos só funcionam em horário comercial e coincidem com o período de trabalho.

Uma boa solução para o problema seria uma maior implementação de vacinação nas escolas das crianças. Outro caminho seria um melhor diálogo entre o Ministério da Saúde e do Trabalho, para que a mãe ou o pai que perdeu um dia de trabalho por precisar levar o filho para ser vacinado não receba nenhum tipo de punição. Por último, surgem os movimentos antivacina, responsáveis por grande parte das fake news e informações erradas que invadem as redes sociais, que foram potencializadas ao longo da pandemia.

Sem repetir os erros do passado

É importante lembrar que na década de 1970, a capital paulista foi cenário da maior epidemia de meningite da história do Brasil. Ao menos 2500 pessoas morreram apenas no ano de 1974 na cidade por meningite meningocócica dos tipos A e C. A epidemia também se espalhou por outras regiões do Brasil e só foi interrompida após uma vacinação em massa de cerca de 80 milhões de pessoas. O Brasil é reconhecido internacionalmente pelo maior programa público de vacinação do mundo — não faz sentido deixar que doenças que podem ser evitadas pela vacina voltem a ameaçar a vida da população.

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