A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu, em 18 de outubro de 2024, a venda, propaganda e uso dos implantes hormonais manipulados, popularmente conhecidos como “chip da beleza“. A decisão, motivada por alertas de sociedades médicas e pelo aumento de casos de complicações graves, coloca em xeque a segurança e eficácia do procedimento, frequentemente utilizado para fins estéticos como emagrecimento e ganho de massa muscular.
O que são os “Chips da Beleza”?
Os “chips da beleza” consistem em implantes hormonais, geralmente compostos por gestrinona, um derivado da testosterona, que são inseridos sob a pele do paciente. Prometem resultados como ganho de massa magra, alívio dos sintomas da menopausa, redução de gordura corporal, aumento da libido e da massa muscular. No entanto, a eficácia do método para fins estéticos nunca foi comprovada cientificamente. Além da gestrinona, outros hormônios como testosterona, estradiol, oxandrolona e metformina também podem ser utilizados na composição dos chips.
Riscos à saúde: da hipertensão ao AVC
A proibição da Anvisa está diretamente relacionada aos riscos à saúde associados ao uso dos implantes. A agência alerta para o aumento de casos de complicações como hipertensão arterial, acidente vascular cerebral (AVC), arritmia cardíaca, dislipidemia (elevação de colesterol e triglicerídeos no sangue). Além disso, podem ocorrer efeitos colaterais como crescimento excessivo de pelos em mulheres (hirsutismo), queda de cabelo (alopecia), acne, alteração na voz (disfonia), insônia e agitação.
Em 2023, o uso dos chips da beleza foi apontado como possivelmente relacionado a 257 casos de complicações de saúde e duas mortes no Brasil. A gravidade dos riscos e a falta de comprovação científica de seus benefícios motivaram a Anvisa a tomar medidas para proteger a saúde da população.
Alerta das sociedades médicas e histórico de proibições
A decisão da Anvisa foi precedida por alertas de diversas sociedades médicas, que já se posicionavam contra o uso dos chips da beleza desde dezembro de 2023, devido aos seus potenciais riscos à saúde. A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) comemorou a proibição, destacando a falta de controle sobre a composição dos implantes e a ausência de pesquisas científicas de qualidade que comprovem sua eficácia e segurança.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia proibido, em 2023, o uso de esteroides com fins estéticos, incluindo a gestrinona presente nos chips da beleza. Na época, a conselheira do CFM, Annelise Meneguesso, afirmou que o implante de gestrinona “não é uma opção terapêutica reconhecida e é condenada pelas maiores federações e associações médicas do mundo”.
Em dezembro de 2023, um grupo de entidades médicas, incluindo a Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Febrasgo, Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), publicou uma carta aberta solicitando que a Anvisa tomasse medidas contra o uso indiscriminado dos chips da beleza. O documento alertava para a banalização da prescrição desses implantes e a disseminação de informações sem respaldo científico nas redes sociais.
Anvisa e a proteção da saúde da população
Com a proibição em vigor, a Anvisa abriu um canal para que pacientes que tiveram reações adversas ao uso dos chips da beleza possam relatar o problema. A agência também alerta que farmácias que continuarem comercializando os chips da beleza estarão sujeitas a punições, incluindo a interdição.
A essa proibição reforça o papel da Anvisa na proteção da saúde da população, atuando de forma preventiva para evitar a disseminação de práticas sem comprovação científica e com potencial para causar danos à saúde. A agência destaca que os implantes hormonais manipulados não foram submetidos à sua avaliação e que não existem produtos semelhantes devidamente registrados no Brasil para os fins estéticos indicados.
A decisão da Anvisa coloca em evidência a importância de buscar informações confiáveis sobre procedimentos estéticos e de consultar um médico antes de iniciar qualquer tratamento, priorizando a saúde e o bem-estar.
Fontes: Agência Braisl; CNN Brasil; Metrópoles