Um novo estudo publicado no periódico médico JAMA Network Open revelou uma associação significativa entre a endometriose e o risco de desenvolver câncer de ovário. A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Utah, acompanhou quase 500 mil mulheres em Utah por um período de 27 anos (1992-2019), utilizando dados do Banco de Dados Populacional de Utah e do Registro de Câncer de Utah.
Os resultados indicam que mulheres com endometriose têm um risco quatro vezes maior de desenvolver câncer de ovário em comparação com mulheres sem a condição. A pesquisa também revelou uma variação no risco de acordo com o subtipo de endometriose: mulheres com formas severas da doença, como endometriose infiltrativa profunda, endometriomas ovarianos ou ambos, apresentam um risco ainda maior, cerca de 9,7 vezes maior em relação às mulheres sem a condição.
Embora o estudo aponte para um aumento considerável no risco relativo, especialistas enfatizam que o câncer de ovário ainda é uma doença rara, afetando cerca de 1,1% das mulheres nos EUA ao longo da vida. Karen Schliep, autora principal do estudo, ressalta que, devido à raridade do câncer de ovário, o aumento no número de casos em mulheres com endometriose é de apenas 10 a 20 por 10 mil mulheres.
Diante disso, os autores do estudo não recomendam mudanças imediatas nos cuidados clínicos ou políticas de saúde pública. A prevenção desse câncer, segundo Schliep, continua baseada em hábitos saudáveis como a prática de exercícios físicos, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool. O histórico familiar de câncer de ovário, mama ou colorretal também representa um fator de risco importante.
No entanto, o estudo reforça a importância do acompanhamento médico regular para mulheres com endometriose, com atenção especial aos sinais de alerta do câncer de ovário:
- Inchaço abdominal
- Dor abdominal
- Alterações na função intestinal ou da bexiga
O uso de pílulas anticoncepcionais, frequentemente recomendado para o tratamento da endometriose, também pode contribuir para a redução do risco do câncer, com uma diminuição estimada em 50%.
A pesquisa publicada no JAMA Network Open contribui para o crescente corpo de evidências que sugere uma ligação entre endometriose e câncer de ovário. Um estudo anterior, publicado na revista Cell Reports Medicine em 2022, também demonstrou uma ligação genética entre a endometriose e subtipos específicos da doença, como o carcinoma de células claras e o carcinoma endometrioide.
Essa ligação genética, segundo os pesquisadores da Universidade de Queensland, pode auxiliar na identificação de potenciais alvos para o desenvolvimento de terapias para ambas as doenças. No entanto, é importante ressaltar que a pesquisa genética não indica um aumento substancial no risco de câncer de ovário para mulheres com endometriose, com a estimativa passando de 1 em 76 para 1 em 55.
Em ambos os estudos, a ênfase recai sobre a necessidade de mais pesquisas para aprofundar a compreensão da complexa relação entre endometriose e câncer de ovário. A identificação dos mecanismos moleculares e genéticos que impulsionam essa associação pode abrir caminho para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento mais eficazes para ambas as condições, impactando positivamente a saúde e qualidade de vida das mulheres.
Recomendações para mulheres com endometriose:
Apesar do risco aumentado em mulheres com essa condição, é crucial lembrar que o câncer de ovário ainda é uma doença rara. As fontes não recomendam medidas drásticas, como histerectomia, baseadas apenas na ligação entre as duas condições. No entanto, algumas recomendações importantes podem ser extraídas das fontes:
- Acompanhamento médico regular: é fundamental para monitorar a endometriose e estar atenta a quaisquer alterações que possam indicar câncer de ovário.
- Atenção aos sinais de alerta: as mulheres com endometriose devem estar cientes dos sintomas do câncer de ovário e procurar atendimento médico caso apresentem inchaço abdominal, dor abdominal persistente ou alterações na função intestinal ou da bexiga.
- Considerar o uso de pílulas anticoncepcionais: pílulas anticoncepcionais são frequentemente usadas para tratar os sintomas da endometriose e também podem reduzir o risco de câncer de ovário em 50%.
- Manter hábitos de vida saudáveis: a prática regular de exercícios físicos, evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool são medidas importantes para a prevenção do câncer de ovário em geral.
- Discutir histórico familiar: informar o médico sobre histórico familiar de câncer de ovário, mama ou colorretal, pois esses fatores também aumentam o risco de desenvolver a doença.
Vale ressaltar que a decisão sobre o tratamento e acompanhamento da endometriose deve ser individualizada e discutida entre a paciente e seu médico, considerando a gravidade da endometriose, histórico familiar e outros fatores de risco.
Fontes: CNN Brasil; NotreDame Intermédica; Science Daily