Nísia Trindade: quem é a nova ministra da Saúde e primeira mulher a comandar a pasta no Brasil

Cientista social, pesquisadora, socióloga e professora, ela tem produção acadêmica e projetos voltados à saúde pública, história das ciências, coordenação de parcerias internacionais e diferentes medidas para a contenção da pandemia da covid-19

Nísia Trindade Lima é a primeira mulher a chefiar o Ministério da Saúde, a partir de janeiro de 2023.  A cientista também foi a primeira mulher a se tornar presidente da Fiocruz, cargo que ocupa desde 2017. Nísia nasceu no Rio de Janeiro, em 1958, crescendo no bairro do Flamengo. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com mestrado em Ciência Política e doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj – atual Iesp), ela tem produção acadêmica e projetos voltados à saúde pública, história das ciências, coordenação de parcerias internacionais e diferentes medidas para a contenção da pandemia da covid-19. Conheça mais sobre sua trajetória:

Começo na Fiocruz

Entre 1998 e 2005, Nísia foi diretora da Casa de Oswaldo Cruz, unidade da Fiocruz voltada para pesquisa e memória em ciências sociais, história e saúde. Ela também participou da elaboração do Museu da Vida, premiado museu de ciência da Fiocruz. Já na Editora Fiocruz, entre 2006 e 2011, atuou na implementação da Rede SciELO Livros. Foi vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, de 2011 até 2016, período em que coordenou as Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia na instituição e também a implantação de políticas de acesso aberto, com o objetivo de tornar disponível toda a produção científica da instituição.

Pesquisas e trabalhos

Nísia é pesquisadora de produtividade de nível superior do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com reconhecimentos devido à produção científica e ações para aprimorar o diálogo entre ciência e sociedade. Sua obra é referência na área de pensamento social brasileiro, história das ciências e saúde pública. Também foi professora, lecionando e orientando alunos em todos os níveis de formação, do ensino básico ao pós-doutorado, como docente na Uerj e na Fiocruz.

É autora de dezenas de artigos, livros e capítulos com reflexões sobre os dilemas da sociedade nacional, sobretudo as cisões entre os Brasis urbano e rural, moderno e atrasado. No campo das ciências sociais vem contribuindo através de diferentes iniciativas para o fortalecimento das ações de pesquisa e ensino. Uma de suas realizações foi a criação da Biblioteca Virtual do Pensamento Social (BVPS), em colaboração com a UFRJ e rede de instituições.

Acordos internacionais

A trajetória da nova ministra da Saúde também é marcada pelo trabalho interdisciplinar em acordos de cooperação internacional. Foi responsável por organizar as comemorações do centenário da Fiocruz e dos 500 anos do descobrimento do Brasil. Já entre 2004 e 2005, ela coordenou na Fiocruz o Ano do Brasil na França em colaboração com instituições como EHESS, Instituto Pasteur, Inserm e CNRS.

Em 2005, tornou-se membro dos comitês científico e executivo do 4º Congresso Mundial de Centros de Ciências – 4SCWC, sediado pelo Museu da Vida e Fiocruz. Mais tarde, em 2009, ela integrou a comissão organizadora das Comemorações do Centenário da descoberta da doença de Chagas. Nísia ainda participou da proposta feita pelo Brasil à OMS em 2019 para declarar o dia 14 de abril como o Dia Mundial da Doença de Chagas.

Contribuição durante a pandemia da covid-19

Como Presidente da Fiocruz, Nísia liderou as ações no enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil. Entre diversas iniciativas, a Fiocruz criou um novo Centro Hospitalar no campus de Manguinhos; coordenou no país o ensaio clínico Solidarity da Organização Mundial da Saúde (OMS); aumentou a capacidade nacional de produção de kits de diagnóstico e processamento de resultados de testagens; organizou ações emergenciais junto a populações vulneráveis; ofereceu cursos virtuais para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS); lançou um manual de biossegurança em escolas; e tornou-se laboratório de referência para a OMS em Covid-19 nas Américas. Nísia também criou o Observatório Covid-19, rede transdisciplinar que realiza pesquisas e sistematiza dados epidemiológicos; monitora e divulga informações, para subsidiar políticas públicas, sobre a circulação do novo coronavírus e seus impactos sociais em diferentes regiões no Brasil.

Ministra da Saúde Nísia Trindade
A nova ministra da Saúde foi responsável por liderar as ações da Fiocruz no enfrentamento da pandemia de covid-19 no Brasil (Foto: Divulgação/Fiocruz)

Entre seus maiores feitos como presidente da Fiocruz, Nísia coordenou todo o acordo de encomenda tecnológica na articulação com o Ministério da Saúde do Brasil, a Universidade de Oxford, a farmacêutica AstraZeneca e as unidades de produção locais. A Fiocruz já forneceu ao Ministério da Saúde mais de 180 milhões de doses de vacinas. Com a conclusão da transferência de tecnologia da AstraZeneca, a Fiocruz tornou-se a primeira instituição do Brasil a produzir e distribuir uma vacina contra a COVID-19 ao Ministério da Saúde com produção 100% nacional. Além disso, em setembro de 2021, a Fundação foi selecionada pela OPAS/OMS como centro de vacinas de mRNA. O Instituto de Tecnologia em Imunobiologia (Bio-Manguinhos) tornou-se um dos dois centros de desenvolvimento e produção de vacinas com tecnologia mRNA da América Latina.

SUS como prioridade 

Em entrevista ao site da Fiocruz, Nísia assegurou que o SUS será sua prioridade no Ministério da Saúde a partir de janeiro de 2023. “A prioridade é usar todo o potencial do SUS, com os seus serviços próprios, a área que envolve os hospitais filantrópicos, que respondem a 50% das internações do SUS, e também o setor privado para um grande esforço no sentido de colocarmos critérios, indicarmos e sinalizarmos os encaminhamentos de prioridade para a regulação, dando transparência a esse processo”, afirmou a nova ministra da Saúde. “Esse já é um esforço que estamos trabalhando e tem muitos elementos na transição para nos ajudar nesse sentido. Também pensamos em mutirões em áreas de vazios assistenciais; esse é o foco prioritário, como o próprio presidente Lula vem falando”.

Fontes: Fiocruz, Portal Fiocruz, Ministério da Saúde.

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