A dipirona e o paracetamol, dois medicamentos analgésicos e antitérmicos amplamente utilizados no Brasil para aliviar dores e febre, têm sido alvo de debates e controvérsias, principalmente devido à sua proibição ou restrição em alguns países. Enquanto no Brasil o acesso a esses medicamentos é facilitado pela venda livre sem receita médica, em países como os Estados Unidos, Japão e alguns da Europa, a dipirona é proibida, e o paracetamol, apesar de amplamente utilizado, é associado a riscos de falência hepática quando consumido em doses elevadas.
Dipirona: eficácia e controvérsias
A dipirona, popularmente conhecida no Brasil pelo nome comercial Novalgina, é um medicamento eficaz no alívio da dor e da febre, competindo até mesmo com opioides em certos casos. Sua popularidade é comprovada pelos mais de 215 milhões de doses vendidas apenas em 2022, segundo dados da Anvisa. Além da Novalgina, outros medicamentos populares que contêm dipirona são o Dorflex e a Neosaldina.
A proibição da dipirona em alguns países se deve a um possível efeito colateral grave chamado agranulocitose, uma condição sanguínea potencialmente fatal caracterizada pela redução de glóbulos brancos, células de defesa do organismo. Estudos realizados nos anos 1960 e 1970 associaram o uso da aminopirina, substância com estrutura similar à da dipirona, a uma alta taxa de agranulocitose. Em 1977, a dipirona foi retirada do mercado norte-americano e, posteriormente, outros países como Japão, Austrália, Reino Unido e parte da União Europeia também a proibiram.
No Brasil, a Anvisa, após analisar estudos mais recentes que indicaram taxas de agranulocitose relativamente baixas associadas ao uso da dipirona, concluiu que os benefícios do medicamento superam os riscos. Estudos realizados a partir dos anos 1980 em países como Itália, Israel e Alemanha apontaram uma taxa de 1,1 caso de agranulocitose para cada 1 milhão de usuários da dipirona.
Paracetamol: dosagem e riscos à saúde
O paracetamol, assim como a dipirona, é um medicamento isento de prescrição médica e está entre os mais consumidos no Brasil e no mundo. Apesar de ser conhecido há mais de um século, seus mecanismos de ação ainda não foram totalmente desvendados.
O principal problema relacionado ao paracetamol reside na dosagem. As agências de saúde estipulam um limite de 4 gramas por dia para adultos. Em crianças, a dose varia de acordo com o peso. A superdosagem pode ocorrer quando pessoas gripadas, por exemplo, ingerem vários medicamentos que contêm paracetamol em sua composição, ultrapassando o limite diário recomendado.
Cerca de 5% do paracetamol ingerido é transformado em quinoneimina, uma substância prejudicial ao fígado. Em doses normais, o fígado consegue processar a quinoneimina sem problemas. No entanto, quando a dose de paracetamol é excessiva, o fígado fica sobrecarregado e não consegue lidar com a grande quantidade de quinoneimina, o que pode levar à falência hepática aguda. Essa condição é grave e requer hospitalização, podendo levar à necessidade de transplante de fígado.
Nos Estados Unidos, entre 1998 e 2003, 48% dos casos de overdose de paracetamol foram acidentais, demonstrando que muitas pessoas desconhecem os riscos da superdosagem. No Brasil, não há dados específicos sobre a relação entre o uso de paracetamol e a falência hepática.
Importância da orientação médica e da leitura da bula
Tanto para a dipirona quanto para o paracetamol, a dosagem e o uso adequados são essenciais para evitar efeitos colaterais e riscos à saúde. É fundamental seguir as instruções da bula e consultar um médico ou farmacêutico para determinar a melhor opção para cada caso.
A Anvisa, em comunicado de 2021, reforçou a importância de observar a dose máxima diária e o intervalo entre as doses recomendados na bula para cada faixa etária. A automedicação e o uso indiscriminado de medicamentos podem trazer sérios riscos à saúde. A informação e a orientação médica são essenciais para o uso seguro e eficaz de qualquer medicamento.
Fontes: Correio Braziliense; Metrópoles