A Região Metropolitana de São Paulo enfrenta uma crise silenciosa: a alta prevalência de transtornos mentais. De acordo com um estudo publicado na revista PLoS One, quase 30% dos habitantes da Grande São Paulo apresentaram algum tipo de transtorno mental nos 12 meses anteriores à pesquisa. Este índice é o mais alto entre os 24 países analisados, colocando a capital paulista em um patamar preocupante em relação à saúde mental de sua população.
Ansiedade, o mal do século:
Entre os transtornos mais comuns na região, a ansiedade lidera o ranking, afetando quase 20% dos entrevistados. Outros transtornos prevalentes incluem os de comportamento (11%), controle de impulso (4,3%) e abuso de substâncias (3,6%).
Vulnerabilidade social agrava o problema:
O estudo, conduzido por pesquisadores da USP e da UFES, aponta que a combinação de alta urbanização e privação social pode explicar a alta prevalência de transtornos mentais na Grande São Paulo. Mulheres que vivem em áreas de alta privação social são particularmente vulneráveis a transtornos de humor, enquanto homens migrantes em situação de vulnerabilidade apresentam maior risco de desenvolver transtornos de ansiedade.
Gravidade do casos:
Outro dado alarmante é a alta proporção de casos graves de transtornos mentais na região (10%). Este número é significativamente maior do que o observado em outros países, como Estados Unidos (5,7%) e Nova Zelândia (4,7%).
Impacto da violência urbana:
A pesquisa também destaca a associação entre a exposição à violência urbana e os transtornos mentais. A exposição ao crime foi relacionada aos quatro tipos de transtornos avaliados no estudo: ansiedade, humor, controle de impulso e abuso de substâncias. A alta urbanização, por sua vez, está particularmente associada ao transtorno de controle de impulso, como o transtorno explosivo intermitente, frequentemente desencadeado por situações de estresse no trânsito.
A Importância da saúde mental na atenção básica:
Diante deste cenário preocupante, o estudo defende o fortalecimento da saúde mental na atenção básica, incluindo o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Saúde da Família. A integração entre atendimento e promoção da saúde mental é crucial para oferecer suporte à população.
Capacitação profissional e diagnóstico precoce:
A capacitação dos profissionais de saúde é fundamental para o diagnóstico precoce e tratamento adequado dos transtornos mentais. É essencial que médicos, enfermeiros e agentes comunitários estejam preparados para identificar os sintomas e fatores de risco, garantindo que os pacientes recebam o cuidado necessário.
Esquizofrenia: um desafio aparte
Em paralelo à alta prevalência de transtornos mentais na Grande São Paulo, dados de janeiro de 2022 a julho de 2024 revelam que a esquizofrenia é a condição mais frequente nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps) para adultos. Durante esse período, mais de 73 mil pacientes com esquizofrenia foram atendidos nos 34 Caps da capital paulista.
Tratamento e suporte nos Caps:
Os Caps desempenham um papel fundamental no tratamento da esquizofrenia, oferecendo um ambiente de cuidado contínuo e humanizado. Através de uma abordagem multidisciplinar, os centros combinam medicamentos antipsicóticos com terapias personalizadas, como psicoterapia, reabilitação psicossocial e terapia ocupacional.
Combate ao estigma da esquizofrenia:
Além do tratamento, os Caps, em conjunto com associações como a Umane, trabalham para desmistificar a esquizofrenia e combater o estigma associado à doença. É fundamental conscientizar a sociedade de que a esquizofrenia não define o indivíduo e que, com o tratamento adequado, os pacientes podem ter uma vida plena e produtiva.
A luta por uma sociedade mais inclusiva e consciente:
A saúde mental é um tema urgente e precisa ser tratada como prioridade na agenda pública. A alta prevalência de transtornos mentais na Grande São Paulo exige ações efetivas para garantir o acesso ao tratamento, a capacitação de profissionais de saúde e a promoção da saúde mental em todos os níveis de atenção. A conscientização da sociedade sobre a importância da saúde mental e o combate ao estigma são fundamentais para construir uma sociedade mais inclusiva e justa para todos.
Fontes: Istoé; Sociedade Brasileira de Clínica Médica