A República Democrática do Congo enfrenta um novo desafio de saúde pública: uma doença não diagnosticada que está a afetar principalmente crianças e causando preocupação em todo o mundo. Desde novembro, o país já registou 406 casos e 31 mortes devido a esta doença misteriosa, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A maioria dos casos relatados são entre crianças, especialmente aquelas com menos de cinco anos.
Sintomas e letalidade: o que a doença causa?
Os sintomas da doença não diagnosticada incluem febre, tosse, fadiga e coriza. Em casos mais graves, os pacientes apresentam dificuldade em respirar, anemia e sinais de desnutrição aguda. A doença tem uma taxa de letalidade de 7,6%, o que significa que 7,6% das pessoas infetadas acabam por morrer. Para contextualizar, no início da pandemia da Covid-19, em 2020, a letalidade estava entre 0,8% e 11%, de acordo com investigadores de Oxford.
Onde a doença está a espalhar-se?
A doença está localizada na zona de saúde de Panzi, na província de Kwango, a cerca de 700 quilómetros da capital, Kinshasa. Esta região é remota, com estradas de difícil acesso e infraestrutura de saúde quase inexistente, o que dificulta os esforços de contenção e tratamento.
Quem são os mais afetados?
As crianças são as mais afetadas por esta doença misteriosa. Na zona de saúde de Panzi, crianças entre 0 e 14 anos representam 64,3% de todos os casos. A faixa etária mais afetada é a de 0 a 59 meses (53% dos casos), seguida pelas crianças entre 5 e 9 anos (7,4%) e entre 10 e 14 anos (3,9%).
Quais são as possíveis causas?
A causa exata da doença ainda é desconhecida, mas a OMS acredita que é mais provável que seja uma doença já conhecida, embora os sintomas sejam semelhantes aos da gripe. Os especialistas estão a considerar várias possibilidades, incluindo pneumonia aguda, gripe, Covid-19, sarampo, malária, dengue e chikungunya. Também existe a possibilidade de uma combinação de doenças estar a causar o surto.
A malária é uma doença comum na área, e pode estar a causar ou contribuir para os casos. Um especialista suspeita que a bactéria Mycoplasma pneumonia pode estar por trás do surto, devido à anemia relatada por alguns pacientes. No entanto, mais análises são necessárias para confirmar qualquer diagnóstico.
Dificuldades na investigação
A capacidade limitada de testes na região é um dos principais obstáculos na identificação da causa do surto. Os laboratórios clínicos no distrito de Panzi só conseguem realizar testes para patógenos comuns. A deteção de patógenos mais raros exige o envio de amostras para laboratórios especializados que usam técnicas avançadas, como o sequenciamento de genes. Este processo pode ser demorado, especialmente devido às dificuldades logísticas na região.
Esforços de contenção e investigação
A OMS enviou uma equipa de especialistas para a região para apoiar as autoridades congolesas na investigação. A equipa é composta por epidemiologistas, clínicos, técnicos de laboratório e especialistas em prevenção e controlo de infeções e comunicação de risco. O Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) também enviou uma equipa multidisciplinar de especialistas para apoiar a investigação.
Os especialistas estão a realizar testes laboratoriais para determinar a causa exata da doença e a implementar medidas de controlo de doenças, considerando a possibilidade de mais de uma doença ser responsável pelas infeções. A equipa também está a trabalhar com líderes comunitários para apoiar a vigilância de doenças e promover medidas para prevenir infeções e identificar e relatar novos casos.
Risco de propagação global
A OMS considera o risco de propagação da doença a nível nacional como moderado, devido à natureza localizada do surto na zona de saúde de Panzi. No entanto, a entidade ressalta a necessidade de maior preparação devido ao potencial de disseminação para áreas vizinhas.
A nível regional e global, o risco permanece baixo no momento. No entanto, a proximidade da área afetada à fronteira com Angola levanta preocupações sobre a potencial transmissão transfronteiriça. A OMS reforça a necessidade de monitoramento contínuo e coordenação nas fronteiras para mitigar esse risco.
A importância da vigilância e da ação rápida
A doença misteriosa no Congo destaca a importância da vigilância epidemiológica e da resposta rápida a surtos de doenças. A identificação precoce de casos, a investigação da causa da doença e a implementação de medidas de controlo são cruciais para evitar a propagação da doença e proteger a saúde pública.
A comunidade internacional precisa continuar a apoiar os esforços da República Democrática do Congo para combater esta doença e prevenir futuras emergências de saúde pública. A investigação em curso e a colaboração entre as autoridades de saúde, especialistas e organizações internacionais são essenciais para conter o surto e proteger as populações vulneráveis.
Fontes: Agência Brasil; CNN Brasil; Deutsche Welle (DW)