A dor aguda, como dores de cabeça, dores nas costas e cólicas menstruais, afeta milhões de pessoas em todo o mundo diariamente. Em busca de soluções inovadoras para o alívio da dor, cientistas da University College Dublin, na Irlanda, desenvolveram uma música que promete amenizar a intensidade dessas dores.
A faixa, intitulada “All of Us”, combina elementos instrumentais, vocais e de orquestra, cuidadosamente selecionados com base em pesquisas sobre a relação entre música e dor, conduzidas pela psicóloga Claire Howlin. Segundo a pesquisadora, essa combinação de elementos atua como um poderoso distrato da dor, além de proporcionar uma sensação de bem-estar e relaxamento.
A ciência por trás da música analgésica
A música “All of Us” é parte do projeto Nurofen Tune Out Pain, uma iniciativa que reúne cientistas, especialistas em gestão da dor e músicos renomados, como o compositor australiano Anatole. O objetivo do projeto é criar um produto que capacite as pessoas a se dissociarem da dor, explica Howlin.
Para testar a eficácia da música, os pesquisadores recrutaram 286 pessoas que sofrem de dores agudas regularmente. Os participantes foram instruídos a avaliar a intensidade da dor antes e depois de ouvirem a música. Os resultados foram promissores: “All of Us” demonstrou reduzir significativamente a intensidade da dor e do desconforto em uma escala clinicamente relevante.
Os cientistas atribuem esse efeito analgésico à capacidade da música de induzir o cérebro a liberar dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de bem-estar. “A combinação de ciência e música tem o potencial de criar uma nova linguagem e promover benefícios positivos imediatos”, afirma Anatole.
Música como aliada no pós-operatório
Estudos recentes também apontam para o potencial da música como ferramenta complementar no tratamento da dor e ansiedade pós-cirúrgica. Uma pesquisa apresentada no congresso do American College of Surgeons demonstrou que ouvir música após cirurgias pode reduzir significativamente a dor, a ansiedade e a necessidade de analgésicos opioides, como a morfina.
A pesquisa, conduzida pela California Northstate University College of Medicine, analisou 35 estudos com mais de 3.700 pacientes e revelou que a música pode levar a uma redução média de 20% na percepção da dor. Além disso, os pacientes que ouviram música utilizaram menos da metade da quantidade de morfina em comparação aos que não tiveram acesso à intervenção musical.
A música também contribuiu para a redução da ansiedade, com uma diminuição média de 2,5 pontos nos níveis relatados pelos pacientes. Observou-se também uma queda na frequência cardíaca dos pacientes que ouviram música, o que favorece a circulação sanguínea e a recuperação pós-operatória.
Benefícios da música para a saúde mental
Os pesquisadores acreditam que a música atua como um bálsamo para a mente, criando um ambiente calmo e relaxante que facilita a transição dos pacientes ao acordarem da anestesia, um momento frequentemente marcado por desorientação e ansiedade. A música proporciona conforto e familiaridade, ajudando os pacientes a se sentirem mais seguros e menos estressados durante a recuperação.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para determinar com precisão os mecanismos pelos quais a música alivia a dor, a percepção dos pacientes sobre a redução da dor é um fator relevante a ser considerado. A música pode promover a dissociação e o relaxamento, permitindo que os pacientes se acalmem sem grande esforço mental.
A música surge como uma abordagem acessível, de baixo custo e fácil implementação nos cuidados pós-operatórios. Seu potencial para reduzir a dor, a ansiedade e o consumo de analgésicos opioides abre novas perspectivas para o tratamento da dor e a promoção do bem-estar.