Um novo estudo publicado no The New England Journal of Medicine revela que a lixisenatida, um medicamento para diabetes, pode retardar o progresso dos sintomas da doença de Parkinson. Essa descoberta animadora surge em meio a crescentes evidências de que os medicamentos podem ter um impacto positivo em doenças neurodegenerativas, como demência e Parkinson.
A lixisenatida pertence à classe dos agonistas do receptor do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1). Essa mesma classe inclui medicamentos populares para diabetes e obesidade como Ozempic e Wegovy, que contêm semaglutida, outro composto GLP-1. Estudos anteriores já sugeriam que medicamentos GLP-1 poderiam ter efeitos benéficos contra a doença de Parkinson.
A pesquisa com lixisenatida envolveu 156 pessoas com sintomas de Parkinson leves a moderados. Metade dos participantes recebeu lixisenatida por um ano, enquanto a outra metade recebeu placebo. Após 12 meses, o grupo que tomou lixisenatida não apresentou piora nos sintomas, enquanto o grupo placebo teve um aumento de três pontos em uma escala de gravidade da doença.
Embora esses resultados sejam promissores, mais pesquisas são necessárias para confirmar os efeitos a longo prazo da lixisenatida no combate à progressão da doença de Parkinson. Os cientistas também buscam entender melhor os mecanismos pelos quais os medicamentos GLP-1 podem proteger contra a doença. Uma hipótese é que o GLP-1 reduz a inflamação, o que poderia prevenir a perda de neurônios produtores de dopamina, um fator crucial no desenvolvimento do Parkinson.
Impacto dos medicamentos para diabetes no risco de demência
Outro estudo, publicado na revista BMJ Open Diabetes Research & Care, investigou o impacto de diferentes remédios para diabetes no risco de demência. A pesquisa analisou dados de 559.106 pessoas com diabetes tipo 2 com mais de 60 anos. Os participantes foram tratados com sulfonilureia (SU), tiazolidinediona (TZD) ou metformina (MET) por pelo menos um ano.
Os resultados mostraram que o uso de tiazolidinediona foi associado a uma redução de 22% no risco de desenvolver qualquer tipo de demência em comparação com o uso de metformina. Além disso, a tiazolidinediona diminuiu o risco de Alzheimer em 11% e o risco de demência vascular em 57%. Os autores do estudo sugerem que a tiazolidinediona pode oferecer proteção contra a demência vascular, que, por sua vez, pode contribuir para o desenvolvimento do Alzheimer.
O estudo também observou que a combinação de tiazolidinediona com metformina reduziu o risco de demência em 11%. No entanto, o uso isolado de sulfonilureia aumentou o risco da doença em 12%. Os pesquisadores alertam que a suplementação de SU com MET ou TZD pode minimizar os potenciais efeitos protetores dos outros dois medicamentos contra a demência.
É importante destacar que este estudo foi observacional, o que significa que não é possível estabelecer uma relação de causa e efeito definitiva entre o uso de tiazolidinediona e a redução do risco de demência. Mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas e elucidar os mecanismos envolvidos.
Inibidores SGLT2: uma nova esperança contra doenças neurodegenerativas
Um estudo mais recente, publicado na revista Neurology em setembro de 2024, examinou a relação entre o uso de inibidores SGLT2, outra classe de medicamentos para diabetes, e o risco de demência e doença de Parkinson. Os pesquisadores analisaram dados de 358.862 pessoas com diabetes tipo 2 na Coreia do Sul, que iniciaram o tratamento com medicamentos para diabetes entre 2014 e 2019.
O estudo constatou que o uso de inibidores SGLT2 foi associado a uma redução de 20% no risco de Alzheimer e Parkinson, e uma redução de 30% no risco de demência vascular. Os autores do estudo acreditam que os inibidores SGLT2 podem oferecer proteção contra doenças neurodegenerativas, mas ressaltam a necessidade de mais pesquisas para confirmar esses achados a longo prazo.
A crescente evidência do potencial dos medicamentos para diabetes no combate a doenças neurodegenerativas abre um novo capítulo na busca por tratamentos eficazes para essas condições debilitantes. As pesquisas futuras devem se concentrar em confirmar esses resultados promissores, entender os mecanismos subjacentes a esses efeitos e determinar as melhores estratégias de tratamento para pacientes com diabetes e alto risco de desenvolver demência ou Parkinson.
Fontes: CNN Brasil; Exame; Science Daily