Vacina contra câncer de pele já é realidade e pode reduzir em 44% as chances de morte pela doença

O imunizante contra o câncer de pele usa a mesma tecnologia de RNAm, que ficou conhecida com a vacina da covid-19, e pode ser personalizado de acordo com o tipo de tumor

Uma vacina contra o melanoma, o tipo de câncer de pele mais letal, está cada vez mais próxima de ser concretizada. As farmacêuticas Moderna e MSD anunciaram, no dia 13 de dezembro, os resultados da segunda, e penúltima, fase dos testes clínicos de uma vacina terapêutica personalizada para o melanoma.

Os testes demonstraram que a vacina, aliada à imunoterapia, levou a uma redução da recorrência do tumor ou de morte pela doença de 44% entre os pacientes com melanoma de estágios III ou IV. O imunizante usa a mesma tecnologia da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Moderna – o uso de RNA mensageiro (RNAm).

A partir dos resultados promissores, as empresas pretendem iniciar conversas com as agências reguladoras para dar início à fase 3 dos testes clínicos, última etapa antes de uma possível aprovação, em 2023. “Estes resultados são altamente encorajadores para o tratamento do câncer. O RNAm foi transformador para a Covid-19, e agora, pela primeira vez, demonstramos o potencial dele para ter um impacto nos resultados de um ensaio clínico em melanoma”, disse Stéphane Bancel, diretor executivo da Moderna, em comunicado.

Ele diz ainda que a empresa pretende iniciar estudos adicionais em melanoma e outras formas de câncer “com o objetivo de trazer um tratamento de câncer verdadeiramente individualizado aos pacientes”. As farmacêuticas também destacam que a aplicação demonstrou ser segura nos testes, sem efeitos adversos graves.

Como a vacina RNAm funciona?

O RNA mensageiro (RNAm) foi descoberto no início dos anos 1960 e começou a ser pesquisado para utilização em vacinas na década seguinte. Mas apesar dessa tecnologia ser estudada há décadas,  a aplicação dela só teve repercussão mundial quando foi usada para a produção em tempo recorde de vacina contra a covid-19. Até recentemente, todas as vacinas eram feitas a partir de um agente infeccioso específico morto ou atenuado que levava o organismo a desenvolver uma resposta imunológica que prevenisse a infecção.

Médica fazendo análise de paciente para câncer de pele
A vacina contra o câncer de pele melanoma usa a mesma tecnologia da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Moderna (Foto: Freepik)

Já a vacina de RNA mensageiro é feita a partir de um RNAm sintético que corresponde a uma determinada proteína do agente infeccioso. Ao receber essa vacina, a pessoa não é exposta a uma parte do micro-organismo que causa a doença, mas sim a um modelo de um RNA mensageiro. Isso faz com que as células produzam parte de uma proteína específica do agente infeccioso para que o organismo aprenda que ela é estranha e, assim, consiga desenvolver uma resposta imunológica.

No caso da covid-19, a vacina faz com que o corpo produza uma parte do próprio coronavírus, que é inofensiva, mas capaz de fazer com que o organismo reconheça aquele invasor para se proteger quando for contaminado. Na vacina contra o melanoma, o imunizante é personalizado, já que o câncer é diferente de pessoa para pessoa. Os cientistas coletam o material genético específico do tumor do paciente, para depois isolar as proteínas e criar o imunizante. Em resumo, a vacina ensina o sistema imune a destruir as células cancerígenas.

Fase de testes promissora

O novo tratamento das farmacêuticas Moderna e MSD consiste em uma combinação da vacina com o medicamento Keytruda, considerado a linha de combate padrão para o melanoma. A segunda fase de testes da vacina personalizada para o melanoma reuniu 157 participantes com a doença em estágio 3 e 4 após uma cirurgia de ressecção completa do tumor, que foram divididos em dois grupos: metade recebeu apenas o Keytruda, e a outra metade recebeu a combinação com a vacina.

No total, a terapia durou cerca de um ano. As aplicações proporcionaram uma redução de 44% na volta do tumor e nas mortes em comparação com aqueles que só receberam o Keytruda. Já os eventos adversos foram observados em 14,4% dos pacientes que receberam a combinação do imunizante e Keytruda, em comparação a 10% que receberam apenas Keytruda, que foram consistentes com os relatados anteriormente no ensaio clínico de fase 1.

O Brasil é o segundo país no mundo com o maior índice de câncer de pele, que também responde pelo maior número de casos da doença por aqui. Se os testes forem aprovados, a vacina pode trazer grandes benefícios aos pacientes e ainda servirá para conter outros casos de oncologia.

Fonte: Moderna, MSD, Ministério da Saúde, Food and Drug Administration (FDA).

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