O Dispositivo Intrauterino (DIU) hormonal, conhecido popularmente como DIU Mirena e Kyleena, é um método contraceptivo de longa duração bastante popular. Recentemente, um estudo dinamarquês publicado no periódico JAMA Network levantou questões sobre a possível associação do DIU hormonal com um risco aumentado de câncer de mama em mulheres entre 15 e 49 anos.
A pesquisa, que acompanhou 78.595 mulheres por duas décadas, apontou um risco 1,4 vezes maior (14 em cada 10 mil) de desenvolvimento da doença entre as usuárias desse método contraceptivo em comparação com as não usuárias. No entanto, a análise aprofundada do estudo e a opinião de especialistas revelam nuances importantes que devem ser consideradas.
Relação de causa e efeito
É crucial destacar que o estudo dinamarquês não conseguiu comprovar uma relação direta de causa e efeito entre o DIU hormonal e o câncer de mama. Os pesquisadores observaram a correlação, mas não afirmaram que de fato seja a causa do aumento do risco. Ilza Monteiro, médica ginecologista e presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Febrasgo, ressalta que o número absoluto de casos de câncer de mama no grupo de usuárias do dispositivo foi pequeno (14 em cada 10 mil). Isso sugere que outros fatores, além do DIU, podem estar contribuindo para o risco observado.
Fatores de risco adicionais e limitações do estudo:
Diversos fatores de risco para o câncer de mama, como histórico familiar, obesidade, sedentarismo e ausência de amamentação, não foram considerados na pesquisa. A presença desses fatores no grupo de mulheres que usaram o DIU pode ter influenciado os resultados. Além disso, o estudo apresenta um viés importante: o número absoluto de mulheres que desenvolveram câncer de mama no grupo que não utilizava foi maior do que no grupo de usuárias do dispositivo.
Outro ponto importante é que o estudo não encontrou relação entre a duração do uso do método contraceptivo e o aumento do risco de câncer de mama, o que enfraquece a hipótese de uma relação causal direta.
DIU hormonal: benefícios e indicações:
Apesar das preocupações levantadas pelo estudo, ele continua sendo um método contraceptivo seguro e eficaz para a maioria das mulheres. Ele é indicado não apenas para prevenir a gravidez, mas também para tratar casos de endometriose, aliviando cólicas menstruais intensas e sangramento menstrual.
Tipos de DIU no Brasil e seus mecanismos de ação
- DIU de cobre: também chamado de não hormonal, esse dispositivo é feito de plástico e cobre. Ele atua principalmente criando um ambiente tóxico para os espermatozoides dentro do útero, impedindo a fertilização. O cobre causa uma inflamação no endométrio que é hostil aos espermatozoides.
- DIU hormonal (Mirena): esse dispositivo libera o hormônio levonorgestrel, um tipo de progesterona sintética. O levonorgestrel age tornando o muco cervical mais espesso, dificultando a passagem dos espermatozoides para o útero e, consequentemente, a fecundação. Além de prevenir a gravidez, o Mirena também é utilizado no tratamento da endometriose, pois reduz o fluxo menstrual e as cólicas.
Vale ressaltar que a escolha do tipo de DIU mais adequado deve ser feita em consulta com um ginecologista, considerando as características individuais de cada mulher.
Individualizando a escolha do contraceptivo:
Ponderando riscos e benefícios:
O estudo dinamarquês sobre o do método contraceptivo e o risco de câncer de mama levanta questões importantes para futuras pesquisas. No entanto, é fundamental interpretar os resultados com cautela, considerando suas limitações e a ausência de uma relação causal comprovada. A escolha do método contraceptivo ideal deve ser personalizada, com base em uma conversa franca entre a mulher e seu médico, levando em conta seus antecedentes de saúde, histórico familiar e estilo de vida.
Fontes: CNN Brasil; Unimed